É craro qui todo mundo sabe dessa histora de cor e sartiado. Mais o qui
ninguém sabe é qui eu, de argum jeito, tive imbolado nela mais do qui divia.
Inté agora eu discunfio de tudo, qui nem cachorro imbarcado. E quem veve assim
disinsufrido tem qui distramelá a boca cum argúem pra mode inlerá as idéia.
Mais falá pra quem e pra quê?
Diz pur aí qui Belarmino morreu
pelas mão da Dora, ôtros fala qui morreu matado pelo padre galego e ôtros mais
diz que Belarmino morreu pru causa qui, por azar, tava ali adonde incumendaro a
morte do tar de Quim Truvão, qui vei inda minino pra morá ali na Rua do Pio,
num quartim nos fundo da casa do seu Pulidoro -home malafamado e qui quano
rapazote sumiu sem êra e nem bêra, pras banda das Mina Gerais, e qui dispois de
véi vortô cum o minino ingarupado. Mais tava todo mundo inganado... ah, se
tava. Eu sei pru causa de quê qui ele arripiô carrera pra bem longe e pruquê
vortara... ah, e cumo sei. Mais dexistá qui isso é ôtra histora e num apetece
de falá agora puis num vai sirvi pra mim disintalá a cunsciênça!
O Quim, certa feita, sumiu qui nem
seu Pulidoro e bateu cos lombo de vorta pra cá só uns quinze dia inhantes do
qui vô contá agora. Sua chegada buliu cum muitos assunto quais interrado. Se
arguém daqui fô mais isperto e assuntá cum paciênca, vai discubri pruquê aquela
disgracera aconteceu. É capaiz inté di sabê qui eu tava invorvido nessa treição
muvida pur gente graúda do lugar.
Acontece é qui ninguém matutô pro
causa di quê qui o Quim tava ali naquele triêro, pruquê qui o Belarmino siguia
naquele rumo em hora de tirá sirviço na roça e pruquê os sordado num deu
siguimento na histora pra discubri quem feiz e pruquê feiz aqueza barbaridade
cum os dois disinfiliz.
Só eu sei qui as resposta tava
naquele imbrui na gibêra de Belarmino.
Num vejo pricisão di contá cumo fui
pará ali. Pur isso vô prossigui da hora qui eu me intucaiei junto cum Quim
Truvão.
_Quede o home?
A prigunta qui eu memo fiz currupiô
nos meu zuvido iguar truvão e foi rebotiano na cabeça pur um bão par de tempo,
insinuano que eu num tinha pruquê inquiri.
Dexei craro qui eu falava do
Belarmino da Dora. Cabuquim manso, fala macia, quais cantada, mais muito
azogado quano arguém mixia cum seus brio. Um tiquim de nada, ele já arrupiava e
a faca treitera relampiava no ar. O home era iguar marimbondo da bunda preta!
O céu azulava pru riba do capão,
trazeno um ventim malemale qui me istrovava apriciá o porranca qui eu inrolei
inda agorinha sem nem oiá prus dedo já muito acustumado cum essa faina. Meu
zóio num disgrudava do camim do vau, qui era pur onde Belarmino divia de
aparecê. Indeis do primero cantá do galo nóis tava ali amoitado e as perna já
furmigava no isperá e isperá ali gachado. Aquele já completava a meia dúzia de
porranca qui eu pitava. Bem qui o Quim pudia tê passado um cafezinho inhantes
de me chamá pra vim pra cá, nessa tucaia!
Cumeçava a chuva!
Quim tinha virado um caboquim miúdo
qui num apartava dum bonezim do inzército muito insebado e puído. Cunforme um diz quê, era dispojo de um isprito
qui ele incaminhô pros quinto dos inferno. Esse tar de Quim tinha vortado há
pôco, currido lá das Uberaba, adonde ele feiz fama de “quebradô de mio”,
sigundo linguajá de jagunço. Ele tinha feito tanta istripulia praqueza banda,
qui sua fama chegô aqui no Goiais bem inhantes dele mesmo vim. E ele tava de
pareio cumigo, fazeno a sua função de passá um susto no Belarmino.
Eu oiava pro Quim de rabo de ôio e
num cunsiguia aquerditá naquilo tudo que os ôtro falava dele nas isquina e nas
chusma de pinguço em tudo quando é buteco pur ali. Tinha pôco mais de treis
arroba de peso, carinha chupada, donde saía ua barbichinha rala, e suas
mãozinha era tão piquinininha e fina qui só de oiá paricia qui ia parti no
meio.
Acho qui a profissão de jagunço é a
arte da paciênça e isso eu num tenho não sinhô! Eu quiria era cabá cum aquela
pendenga de uma veizada só e sumi pra nunca mais me metê a home brabo...
_ Quedê o home, Quim? (e ele nem
tchum pra mim...)
Eu já tava pra disisti daquela lida
quano um baruim mei avurtado me dispertô as ideia. A camisa branquicenta de
argudão de Belarmino rompeu ali bem pertim de onde nóis tava amoitado. O Quim
bateu de coque digêro qui nem um gato e isticô o pescocim fino, pareceno qui ia
dá um bote. Oiô pra todo lado e falô bem baxim, sem dexá di vigiá o triêro:
_ Cê fica vigiano daqui qui eu vô dá
a vorta pur ditrais. Se ele mudá de rumo me avisa cum o sinar cumbinado.
Saiu que nem cobra, torceno o corpim
no mei da gaiada de sapexe arquiada pela chuva qui caía cheia de razão. Num
feiz nadica de baruio e nem buliu nas foia qui trançava na sua frente. Qui nem
ua assombração, sua cabeça aprumô pertim de Belarmino qui tava inucente daquesa
manobra tudinha. Cumo se num bastasse a chuva, eu suava qui nem tiradô de
isprito nas noite de intimação...
Um relampe travessô o céu e eu
roguei um valha-me Deus! na mesma
hora. Paricia qui Nosso Sinhô tava praguejano contra a nossa tucaia. Achei qui
era um aviso de qui as coisa ia distrangolá.
Eu, qui num tinha nada de tá
intrimeiado naquela pendenga, tava ali, pregado na pedra preta qui nem perereca
na bananêra. Atinei de oiá invorta, amiudano as vista e sintino a guela seca,
memo dibaxo daquele toró de chuva qui num fraquejava. Bem na hora qui um
sigundo raio riscô o céu, aquela foice paricida do nada ripicô o rai na sua
chapa bem amolada e desceu duma veiz no pescocim magro do Quim, fazeno um
baruio iguar o di quano se gorpeia uma abobra pôde. O Quim arriô nas perna
divagarzim e caiu de borco inrriba do mato, sem nem suspirá, inquanto sua
cabeça discansô no capim meloso, apartada do resto do corpo.
Belarmino cuntinuô sem atiná pra o
qui se deu. Cumeçô a descê o vau, inucente de tudo nessa vida. Sigurano
malemale na ramage amulicida, deu ua trégua pras perna e ficô mei agachado no
cumeço da discida. Passô a mão na testa, limpano a água e o medo qui iscurria
de sua cabeça, aparpô o imbornal na gibera da calça e prossiguiu sua marcha.
Meu coração ripicava tão miudinho
qui inté duía dos lado da cabeça. Aí meu corpo tremeu mais ainda quano o vurto,
de foice em punho, acumpanhô, chei de cuidado e silênco, os passo de Belarmino.
Nessa hora o meu medo virô horror e eu parei inté de respirá. Disamoitei e
sigui os dois.
Os meus dente trincava e os pé
afogado de água na butina insistiro em disprendê do visgo qui meu medo criô. Eu
nem oiava o camim qui minhas perna tomava, puis eu tava oiano mais adiante, bem
lá onde o vurto incubriu, siguino o Belarmino.
Eu bem qui pudia tentá ivitá o qui
tava pur acuntecê, mais quá! Cumo eu ia ixpricá pruque qui eu tava ali, sem nem
um istilingue na mão. Eu, qui era qui nem pardal qui só gosta de cidade, taria
fazeno o quê naquese ermo de roça?
_ Mió assisti o qui ia acuntecê!
Colado qui nem cobra no chão, fui
ralano o bucho na lama e espreitei na bera do barranco. Um ôtro raio clareô o
corpo do Quim, mortim da silva, sem sangue e sem cabeça, espraiado no chão cum
a mão amulicida em vorta do cabo da garrucha. Nem tempo ele teve de lavá seu
isprito pecadô cum a água do arripendimento. O arrupio desceu miúdo no meu
lombo e eu pensei mais qui digêro um Padre
Nosso e ua Salve Rainha.
Belarmino cumeçava a subida do
barranco do ôtro lado quano o vurto arcançô ele. Cada gorpe da ferramenta era
siguida de um urro de Belarmino. Quatro urro dele, quatro ispinho interrano no
fundo do meu peito. Ua nuve cumeçô a formá invorta de mim, meu zóio amulecero e
eu murguiei a cabeça inté dá cum a testa no chão. Sinti um sussegá isquisito e
tudo ia iscureceno. Inhantes de dismaiá, assuntei o vurto virá o pescoço pra
tudo quanto é lado, inté qui ele arquiô incima do difunto morto de Belarmino,
virô ele de bruço e tirô da sua gibêra o imbrui qui tava drobado cum muito
zelo, dento dum saco prástico, pra mode num moiá. Meus zuvido assuntô o trupel
da besta, inté tudo se apagá de veiz.
Acordei da sapituca quano a chuva já
tava só um uruvaio ralim. Premêro eu custei a alembrá donde eu tava. Quando
alembrei, um rupiaço desceu pelas costa e morreu finim na ponta do sobre. Num
disatino, bati de juei e ispichei o zóio pru rumo do disbarrancado. Tudo era um
silênço só, aforante o canto dos passarim sardano a vorta do sol pur ditrais
das nuve ainda preta.
Divisei as perna de Belarmino mei
dentro da enxorrada que curria barrenta no fundo do vau. Disci, dispois de num
achá pirigo, e vi ele intero, qué dize, quais intero, puis o vurto tinha feito
um trabaio e tanto cum a foice. Uma treis-pote sumiu qui nem um risco intrimei
as moita de são-jusé e eu achei mió sigui esse consei mudo qui ela me deu.
Carculei a image de Belarmino tudo
insanguentado, sabeno qui nunca mais nessa vida eu divia de isqueçê. Truci a
cara prum lado e saí dali matutano a ingratidão da vida e se num cunhicia
aquele cuxunil que o vurto da foice jogô nas costa
_ Ara! Vai vê qui era só visage...
só visage...