quarta-feira, 22 de agosto de 2012

CONFLITO ÍNTIMO


CONFLITO ÍNTIMO

Um pássaro cantou na minha janela esta manhã.
Meu coração, ornitólogo desavisado, extraiu das notas de afeto
somente a parte mais dorida da canção silvestre
que fala de saudades, de distâncias, de desavisos.
No calor aconchegante e solitário de meus lençóis,
meu corpo passou a tremer em desatino...
Do conto de fadas da véspera,
do amor que provei no seu colo alvo
ficou apenas o sabor acridoce de seus lábios nos meus.

De repente, o canto do pássaro silenciou truculento.
Corri, abri a janela em quase desespero
e divisei apenas o vulto silencioso de um gato
caminhando em equilíbrio incomum
pelos galhos frágeis da quaresmeira

Um comentário:

Lécia Lucas disse...

Que seria de nós sem as ilusões que nos prometem tanto e nos faz prospectivos, não é mesmo?